Monday, August 27, 2007

Aula do dia 27/08

Na aula desta segunda-feira dia 27, entramos nos primeiros métodos de ensino propriamente ditos: O Método Gramática e Tradução (em inglês: Grammar Translation Method, daí o porquê da abreviação GTM), e o Método Direto (Direct Method - DM). Ambos apoiam-se em uma concepção tradicional de língua.

Os textos auxiliares desse dia consistiram em dois fragmentos de artigos, mais uma ficha para a análise de uma pequena amostra do material didático dos dois métodos. Você pode clicar aqui para baixar a folha com os textos, e aqui para a ficha com a amostra de material. (Clique em "Download file"). Ambos os trechos selecionados são de autoria da professora Vera Lúcia Menezes de Oliveira Paiva, da UFMG. O primeiro artigo - "Da estrutura frasal à estrutura discursiva" - traz um trecho explicativo sobre o histórico dos métodos que estudamos nesse dia, o qual achei oportuno compartilhar com vocês. O segundo trecho, retirado do artigo "O Ensino de Vocabulário" foi selecionado para suprir a falta de informações sobre o DM em nossa apostila.

O site da professora é http://www.veramenezes.com, e lá constam estes artigos na íntegra, bem como vários outros publicados por ela em periódicos acadêmicos. Há também outros materiais interessantes (a seção "slides", por exemplo), e trata-se de um site que vale a pena visitar na hora de fazer uma pesquisa online nessa área. Na internet, em geral, é difícil achar páginas de bom conteúdo. Pesquisar desta forma, embora requira um pouco de paciência (já que não se trata de uma informação "mastigada" como numa Wikipédia) é uma ótima maneira de encontrar textos de qualidade. Mas, cada fonte com seu momento e seu mérito, não é mesmo?

Passando ao primeiro tópico da aula: O Método Gramática e Tradução, como comentamos anteriormente, teve origem na própria maneira como os romanos aprendiam a língua grega. Esta maneira, baseada em manuais bilíngües, foi reaproveitada no ensino de latim durante a Idade Média para os povos europeus, que aprendiam essa língua como "a língua da cultura", e isso de certa forma era o ensino de uma língua estrangeira também. O desenvolvimento do Método propriamente dito, entretanto, deu-se conforme as línguas vernaculares da Europa (isto é: inglês, francês, alemão, espanhol) ganharam importância no cenário mundial de forma mais ampla, isto é, mais ao alcance das pessoas comuns (a burguesia, mais especificamente). Em pleno auge do Romantismo, começava a surgir a leitura como hábito cotidiano também, e as pessoas aos poucos percebiam que ler as traduções não era a mesma coisa que ler os originais. Escritores, por sua vez, queriam ler Shakespeare em busca de inspiração. As razões para aprender outras línguas que não o latim e o grego eram diversas, enfim.

Inicialmente buscou-se reproduzir a metodologia de ensino anterior, ou seja, o ensino de regras gramaticais nos padrões clássicos, com o uso dos textos literários que se pretendia conhecer. Tal estratégia, como aponta o texto, era útil para pessoas que já eram habituadas ao estudo da gramática greco-latina, pessoas já possuidoras de certa cultura de aprendizagem lingüística. A "nova clientela", porém, exigia estratégias diferenciadas. O GTM, então, teve como objetivo "simplificar" os modelos anteriores. Os textos literários (e fragmentos destes) então deram lugar a textos simplificados, artificiais, criados com propósitos pedagógicos. Tais textos usualmente exibem características que tiram destes o "status" de texto, como por exemplo o fato de terem todos os verbos num único tempo verbal (o da lição estudada). Para a Lingüística Textual, texto é a unidade lingüística considerada "todo portador de sentido", o que envolve fatores como contexto e funções da linguagem. Textos artificiais geralmente não se enquadram nessas características também, servindo tão somente como "pretexto" para o ensino de gramática.

Fora isso, tal método desconsiderava quase totalmente a modalidade falada, prendendo-se tão somente à escrita. Mesmo para leitura, quando o aprendiz se depara com textos autênticos, o conhecimento de gramática é apenas uma das habilidades que auxilia a compreensão. O processo de leitura é dinâmico e pressupõe, além disso, que o indivíduo crie hipóteses e empregue seu conhecimento de mundo também. Com estas observações sobre leitura em mente, surgiu então o chamado "Método de leitura", que além de se ater apenas à gramática útil para a leitura, apresentava algumas técnicas de leitura mais avançadas. Não vamos detalhar o Método de Leitura, devido a, no fim das contas, seus pressupostos se assemelharem muito aos do GTM. Para maiores detalhes, leia sobre ambos nas páginas 57-61 da apostila.

Tanto o GTM quanto o Método de leitura possuem o defeito de não trabalharem as quatro habilidades. Assim, quando o aluno precisa usar as orais (listening e speaking), ambos deixam muito a desejar. Visando sanar essa falha, ocorreu a primeira reação a estes: o chamado Método Direto, datado do final do século XIX. Percebendo a exclusão da oralidade, o DM toma a direção completamente oposta: O professor fala o tempo todo em inglês, e os alunos teoricamente fazem o mesmo, mesmo para questões corriqueiras da sala de aula como pedir para entrar ou sair da sala, responder à chamada e etc. A língua materna é completa e subitamente banida da sala de aula.

No DM, há bastante ênfase no ensino de vocabulário, por meio de técnicas que constituem a primeira manifestação de preocupação com um "fator contextual". São mostrados objetos, cartazes, mímicas, tudo na intenção de auxiliar a memorização do vocabulário por meio de associações. Essa assimilação não deve, segundo o método, ser mediada pela língua materna. O trecho em inglês do artigo está traduzido abaixo para exemplificar esta característica:

"O Método Direto tenta ligar a palavra em língua estrangeira diretamente ao conceito ('significado do termo'). O professor, por exemplo, segura uma caneta e diz 'Isto é uma caneta', ou aponta para a porta e diz 'Isto é uma porta'. A escolha do método não é tão simples, porém, em vista de muitos fatores estarem envolvidos. Fortes objeções são feitas geralmente à sua total negação da tradução, que baseia-se na idéia de que ela compromete seriamente o desenvolvimento dos hábitos corretos de fala e leitura, melhor adquiridos em um meio simples. Há ainda mais objeção devido ao fato de que as palavras em uma língua não correspondem exatamente às palavras da outra, apesar de ambas poderem ser aplicadas a um contexto particular."

Quanto aos exemplos de cada método cabem os seguintes comentários: A amostra do material do GMT mostra um texto em que todos os verbos estão na forma do Present Perfect. Foi solicitado em classe que vocês descrevessem mais características do método presentes no texto, e mencionaram também a tática dedutiva de apresentação da gramática: primeiro aparecem as regras, que então são seguidas de exemplos. As questões sobre o texto, por sua vez, também refletem uma visão bem "plana" de interpretação de texto. Mal pede-se a decodificação. O material do DM exibe as características "contextuais" mencionadas anteriormente: Há as figuras, e as frases em inglês ao lado, visando a fixação do vocabulário e da estrutura gramatical (de modo indireto, indutivo). Usa-se aspas aqui para questionar se esse emprego de figuras realmente constitui um contexto de comunicação. As frases empregadas não refletem nenhuma situação real de comunicação, afinal.

A presença desses métodos na escola brasileira se faz notar mais pelo GTM do que pelo DM. Isso tem explicação: Para lecionar a gramática da língua alvo não é necessário exatamente conhecer esta. Ensina-se sobre a língua, e não a língua, afinal de contas. Devido a isso, a grande maioria dos professores da rede pública, geralmente aprovada para seus cargos sem maiores rigores, adere a este método por ser "o mais fácil de se usar". O quadro do ensino de LE na escola pública fala por si só. Não há retrato mais fiel da ineficiência do GTM do que o monolingüismo moroso do brasileiro, também altamente ligado à falta de incentivos ($) para que os professores aprimorem seus métodos e à falta de incentivos à escola em si. Bem, mas isso é uma discussão para outra hora.

O DM, por sua vez, enfrentou dificuldades de implantação devido à fluência que é exigida do professor. Se a aula é falada o tempo todo na língua-alvo, não é mais possível "mascarar" o desconhecimento da língua como no GTM. Ainda assim, muito do DM influenciou a filosofia do ensino de línguas no Brasil. Basta conferir a grande rejeição à tradução que manifesta-se no ensino.

Para finalizar a aula, mencionei então o quanto é importante conhecer essas metodologias, uma vez que, embora estejam ultrapassadas, elas ainda influenciam muito o ensino atual. Essa reflexão permeará o resto das atividades da disciplina, até chegarmos às abordagens consideradas contemporaneamente como mais apropriadas.

See you tomorrow!

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