Saturday, August 25, 2007

Aula do dia 20/08

Prezados alunos:

Encerrando essa fase inicial de mobilização dos conceitos operacionais básicos de nossa disciplina, tratamos no dia 20 das concepções e tendências de ensino, usando o mesmo esquema da aula sobre concepções de aprendizagem (dia 07/08). Partimos, portanto, das formas de se considerar a própria questão do conhecimento, mas acrescentamos a isso um detalhamento adicional a respeito da manifestação prática dessas concepções, o qual corresponde à parte sobre as tendências. Faça o download da ficha didática utilizada clicando aqui.

O primeiro ponto que esteve em questão na aula foi o próprio arranjo dos termos "ensino" e "aprendizagem". Podemos encontrá-los grafados de várias maneiras na literatura educacional, e é interessante refletirmos brevemente sobre quais idéias essas maneiras privilegiam. Quando falamos de "ensino" e "aprendizagem" separadamente, estamos considerando aspectos pertinentes a apenas um dos lados do processo educacional. Não há problema em fazê-lo quando é esta a intenção. Entretanto, encontramos muitas vezes um professor referindo-se à sua prática apenas como "ensino", ou à "aprendizagem" como um "problema" exclusivo do aluno.

Percebo que tais termos podem, nesse contexto, estar significando que, para este profissional, esses processos são absolutamente separados, e até mesmo independem um do outro. Um professor motivado por esse pensamento consegue até elaborar seu programa sem pensar em alunos reais, e se os alunos não aprendem, "não foi por culpa dele", já que a aprendizagem quem gerencia é o aluno.

Eventualmente, encontramos então a expressão "ensino/aprendizagem", e essa barra já nos permite considerar o ensino e a aprendizagem como processos simultâneos. Usando uma lógica bem básica, esse termo já expressa que um processo só acontece quando acontece o outro: Não há professor que dê aula sozinho, nem aluno que aprenda sem professor algum. A questão do ensino totalmente desarticulado de uma dad realidade já cai por terra, bem como um aprendizado ideal, independente por completo de outro ser humano.

Entretanto, esse termo ainda não expressa a total imbricação entre o ensino e a aprendizagem que realmente é necessária à sala de aula, que fica mais evidente no termo com hífen: "ensino-aprendizagem". Aqui, mais do que "se fazer entender" pelo aluno (que remete à "simultaneidade" do termo com barra "/"), o professor deve conhecê-lo, deve planejar seu programa de maneira bem específica e personalizada, sempre atento às demandas de seus alunos num nível macro.

Bem, feita essa consideração inicial, podemos passar para as concepções de ensino. Como já foi dito anteriormente, cada concepção de conhecimento tem uma idéia principal que, se apreendida, permite a compreensão dos demais aspectos pertinentes a ela. No resumo da aula do dia 7 eu coloquei essas "palavras chave" com cor destacada. Para o Empirismo, o aspecto mais importante do conhecimento é a experiência, para o Racionalismo é o poder das idéias, e para o Relativismo é a interatividade entre ambos os aspectos das demais. Aplicando-se isso ao Ensino, temos:

Uma concepção Empirista de ensino, por acreditar que o aluno aprende na experimentação, privilegia a chamada pedagogia diretiva. O professor é a autoridade que direciona todos os processos da sala de aula, para que caiba ao aluno apenas a internalização desse conhecimento, que é "externo".

Em termos de conteúdo, usa-se muito o método indutivo, ou seja, a partir de um conjunto de fatos observáveis, o professor induz o aluno a formar uma constatação geral (E aqui permitam-me dizer que, em português, essa nomenclatura não facilita a compreensão do que vem a ser método indutivo, já que a semântica do verbo induzir lembra muito a idéia de regras prontas a seguir...). No ensino de Língua Inglesa, um exemplo seria: o professor apresenta várias palavras terminadas em -x, com seus respectivos plurais terminados em -xes: box - boxes, fox - foxes, e depois formula a regra: "Faz-se o plural de palavras terminadas em -x com o acréscimo de -es". Uma crítica comum a esse método é que as generalizações decorrentes não são duráveis. O plural de ox, por exemplo, é oxen, constituindo uma exceção à regra.

Para se chegar a esse ponto, professor e aluno empregam a transmissão e a repetição da informação, e um método que sintetiza bem essa mecanicidade é a chamada "trindade magna" (magna = boa): "Fala, ouve, repete".

Pela concepção Racionalista temos o oposto destas proposições. Já que o aprendizado ocorre de maneira interna, não há uma pedagogia diretiva, e quem dita o rumo e o ritmo da aprendizagem é o aluno. O professor tem o papel de estar atento a essas aspirações, para motivá-las, fomentá-las e permitir que os alunos se desenvolvam mais e melhor, cada um a seu tempo.

Oposto ao método indutivo, usa-se nesta concepção, basicamente, o dedutivo, que leva o aluno das leis gerais para as ocorrências particulares. No exemplo mencionado anteriormente, isso corresponderia ao professor primeiro apresentar a regra "Faz-se o plural de palavras terminadas em -x com o acréscimo de -es", para depois o aluno lidar com a aplicação desta nas palavras. O ponto falho dessa técnica continua sendo o mesmo do método contrário: As leis nem sempre se aplicam a todos os casos, é corre-se ainda o risco de haver tantas exceções às regras, que estas últimas sejam simplesmente dispensáveis.

Interessa dizer ainda que na concepção racionalista de ensino, cabe ao aluno um papel de bastante independência e autodidatismo, enquanto o professor contribui mais como administrador do conhecimento dos alunos.

Por fim, no Relativismo, temos a pedagogia relacional, que se vale tanto do método indutivo quanto do dedutivo para construir o conhecimento com os alunos: Ao mesmo tempo em que ocorrências particulares podem ser sistematizadas na forma de uma regra, regras prévias também podem ser aplicadas a casos desconhecidos. Vale ressaltar apenas que, esta concepção preza muito pela dimensão realista do ensino. Assim, qualquer conhecimento que se mostre inconsistente é reformulado para adaptar-se ao uso.

Nesta concepção, os papéis de professor e aluno são os menos estáveis. Ao professor cabe uma postura diretiva, no sentido de analisar as necessidades impostas pela sociedade e conduzir seus alunos à superação destas, bem como também cabe a não-diretividade, no que diz respeito à analise de demandas da turma específica em que atua e de seus alunos individualmente. Os alunos, por sua vez, ao mesmo tempo em que devem se engajar nas atividades propostas, também dispõem de espaço para trazer sua realidade para a aula.

Prosseguindo com a aula, passamos então à questão das tendências no ensino, que devem ser entendidas aqui como a concretização das concepções. Tratamos de cinco delas:

A Formalista Clássica, como o próprio nome já indica, se refere aos métodos tradicionais de ensino, baseados em: quadro, giz, fala, apostila, livros, fotocópias, e etc. A aula é predominantemente expositiva, então a figura principal é o professor. As origens dessa tendência encontram-se na Escolástica, e ela foi trazida para o Brasil por meio dos padres jesuítas.

A Empírico-Ativista, fundada por Maria Montessori, dá bastante ênfase a uma aula experimental: o aluno exercita seus sentidos, manipulando, olhando, tocando, e etc, sendo que, então, o elemento principal é o material pedagógico. Em língua inglesa, encontramos manifestações desta tendência no corriqueiro uso de cartazes com desenhos das partes do corpo ou das cores, ou ainda nos professores que trabalham a pronúncia por meio de canções.

Na tendência Tecnicista, o papel principal cabe aos recursos tecnológicos, e a aula é do tipo "multimídia". Quer seja por meio de computadores, datashows, retroprojetores, TV, vídeos ou outras técnicas de educação à distância, aqui a ênfase é na tecnologia. Foi uma tendência que esteve muito em voga nos anos 70, a ponto de saturação. Em seus primórdios, acreditava-se ser útil por mecanizar e automatizar o aprendizado, com resquícios do Behaviorismo de Skinner e Pavlov. O surgimento e a democratização da internet têm trazido contribuições válidas do tecnicismo à tona novamente, que, em vez de retomar esse aspecto mecanizante, usam a tecnologia mais como um novo meio de interação social.

A tendência Construtivista é a que tem como elemento chave as relações humanas. Na aula chamada "produtiva", temos constantemente o trabalho em equipe e as ligações sociais como elementos que lidam com a afetividade, a amizade, o lúdico, a socialização e a troca de idéias. Seus fundamentos teóricos advém principalmente das contribuições de Jean Piaget e dos demais construtivistas.

A Socioetnocultural, tida atualmente como a mais completa, é a tendência que tem seu maior expoente na figura de Paulo Freire e na prática que poderíamos chamar de "pedagogia dos problemas". A aula, nessa tendência, tem um forte apelo contextual: deve tratar da realidade dos alunos, e questionamentos reais devem ser trazidos para a sala, a fim de serem resolvidos. Na área do ensino de línguas, essa tendência é visível principalmente na chamada Abordagem Comunicativa, que usa os gêneros discursivos para ensinar a língua como ela se apresenta para os alunos. Dedicaremos a maior parte das horas/aula de nossa disciplina a estudar essa abordagem posteriormente.

Na próxima aula, trataremos das primeiras manifestações de ensino de língua estrangeira. Gostam de História?

Abraços.

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